E d u c A ç ã o

27/06/2009

Flauta pré-histórica de 35 mil anos

Filed under: História da Cultura,Pré-história — jspimenta @ 20:20

Mais antigo instrumento musical fabricado pelo homem encontrado até hoje tem cerca de 35 mil anos

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Produzido há cerca de 35 mil anos, o instrumento de sopro de cinco orifícios encontrado em uma caverna no sul da Alemanha impressiona pela semelhança com as flautas atuais (foto: H. Jensen/ Universidade de Tübingen).

Os homens das cavernas dançavam ao som de flautas. É o que sugere um artigo publicado esta semana na Nature que descreve o mais antigo instrumento musical fabricado pelo homem de que se tem notícia: uma flauta com cerca de 35 mil anos, retirada de uma caverna no sul da Alemanha. A descoberta indica que os primeiros europeus modernos já tinham uma tradição musical estabelecida.

Os mais antigos instrumentos feitos pelo homem encontrados até hoje eram um grupo de 22 flautas datadas de 30 mil anos, descobertas na França, e uma flauta de aproximadamente 20 mil anos, da Áustria.

Os doze pedaços que compõem a flauta recém-descoberta foram encontrados na caverna de Hohle Fels, na região da Suábia (Alemanha), em setembro de 2008. O instrumento foi esculpido a partir do osso de um abutre-fouveiro (Gyps fulvus) e tem 21,8 centímetros de comprimento e 0,8 cm de diâmetro.

Segundo um dos autores do artigo, o arqueólogo Nicolas Conard, da Universidade de Tübingen (Alemanha), o que mais chamou a atenção da equipe foi a semelhança da peça com as flautas modernas. O instrumento tem cinco orifícios para o posicionamento dos dedos e uma das pontas com abertura em forma de ‘v’, provavelmente por onde saía o som.

Durante as escavações, também foram recuperados outros três fragmentos em marfim, que pertenceriam a duas flautas. Os pesquisadores salientam que, por serem de um material mais resistente que o osso de ave, essas flautas demandaram técnicas mais apuradas de fabricação.

Habilidades artísticas estabelecidas
As peças foram encontradas a apenas 70 centímetros do local onde estava uma escultura de corpo feminino feita em marfim – batizada de Vênus de Hohle Fels –, também descrita por Conard na Nature em maio deste ano. Segundo o arqueólogo, tanto as flautas como a escultura são exemplos das manifestações culturais do homem que viveu no período Paleolítico Superior (entre 40 mil e 10 mil anos a.C). “A descoberta dessas peças prova que naquela época o homem já apresentava habilidades artísticas e tinha uma linguagem simbólica similar à atual”, diz o pesquisador à CH On-line.

De acordo com o artigo, a existência de uma tradição musical no período Paleolítico pode ter colaborado para a manutenção de redes sociais e, assim, ajudado na expansão territorial e demográfica do homem moderno. Os neandertais, hominídeos que viveram nesse mesmo período, tinham manifestações culturais mais acanhadas e talvez por isso tenham permanecido isolados.

Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
25/06/2009

Bilinguismo infantil: bom ou ruim?

Filed under: Bilinguismo,Educação — jspimenta @ 20:15

Estudo avalia consequências do aprendizado de mais de uma língua durante a infância

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Quais os efeitos do aprendizado precoce de uma língua estrangeira? Para responder a essa pergunta, uma psicóloga paulista investigou a fundo estudos que apontam vantagens ou desvantagens do bilinguismo em crianças de até quatro anos. Ela concluiu que os possíveis benefícios do ensino de uma segunda língua dependem em grande parte do ambiente em que a criança vive.

Embora a língua oficial do Brasil seja o português, é crescente o número de crianças que aprendem outro idioma ainda nos primeiros anos de vida. A importância do inglês no mundo globalizado, a manutenção de línguas indígenas em escolas dentro de reservas e a existência de projetos bilíngues em escolas que ficam nas fronteiras com outros países sul-americanos são alguns motivos para o fenômeno.

A psicóloga Elizabete Flory analisou inúmeros trabalhos brasileiros e estrangeiros sobre o desenvolvimento de crianças que aprenderam duas línguas ao mesmo tempo, ou que pelo menos começaram o aprendizado do segundo idioma antes de dominarem o primeiro. O estudo foi feito durante o doutorado da pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP).

Flory verificou que, até meados dos anos 1960, o bilinguismo era mal-visto pela maioria dos estudiosos. Testes feitos nos Estados Unidos compararam crianças bilíngues e monolíngues e apontaram uma possível confusão de identidade e quociente de inteligência (QI) mais baixo naquelas que falavam mais de uma língua.

A psicóloga relacionou essas conclusões a algumas falhas nos testes, que não consideravam a situação cultural ou econômica das crianças analisadas. “Esses testes foram feitos com filhos de imigrantes, que viviam em um ambiente onde sua língua e cultura eram desvalorizadas”, analisa.

Foi a partir de um estudo realizado por pesquisadores canadenses no início da década de 1960 que o bilinguismo começou a ser considerado benéfico. A comparação foi feita entre crianças que partilhavam as mesmas condições socioeconômicas e não sofriam discriminação cultural, no caso das bilíngues.

O resultado chegou a surpreender os pesquisadores: 15 das 18 crianças bilíngues analisadas apresentaram QI superior ao das crianças monolíngues. Mas Flory também questiona o estudo, argumentando que a psicologia atual não considera que o QI determine a inteligência de uma pessoa. “A inteligência é um conceito relativo, que pode se desdobrar em habilidades distintas”, completa.

Vantagens cognitivas
A psicóloga repudia a atribuição de vantagens ou desvantagens absolutas ao bilinguismo precoce. “Dizer que o bilinguismo aumenta a inteligência é tão errado quanto dizer que diminui”, pondera. Ela explica que as crianças bilíngues podem desenvolver algumas capacidades mais cedo que crianças monolíngues, mas isso não significa um aumento da sua inteligência.

Por falarem mais de uma língua, crianças bilíngues desenvolvem mais rápido o que a psicologia chama de “controle inibitório”, pois, enquanto falam uma língua, elas naturalmente inibem a outra. “Isso nos auxilia quando temos muitos estímulos e precisamos nos focar em apenas um deles”, acrescenta Flory.

Além disso, o bilinguismo estimula a flexibilidade do pensamento. Quando uma criança aprende a falar dois idiomas ao mesmo tempo, ela compreende que os objetos podem ter mais de um nome. “Isso freia o que chamamos de respostas automáticas, pois há flexibilidade para se pensar em novas soluções, dar respostas mais criativas”, afirma a psicóloga.

Flory ressalta que o desenvolvimento infantil é muito influenciado pelo contexto em que a segunda língua é aprendida. “Nem sempre todas essas características são observadas no mesmo indivíduo”, diz. “Deve-se levar em conta o ambiente em que essa criança vive e o valor que é atribuído à sua segunda língua.”

A pesquisadora sugere algumas ações que podem auxiliar no acompanhamento de crianças que vivem em ambientes bilíngues. Pais e educadores devem adequar o ensino à capacidade cognitiva da criança – promovendo brincadeiras que envolvam as palavras, por exemplo – e estimular a valorização da segunda língua ao mostrar o porquê do seu uso.

Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
23/06/2009

21/06/2009

Carta escrita em 2070…

Filed under: Aquecimento Global,Meio Ambiente,Viver bem — jspimenta @ 17:17

seca NO MUNDO

“Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85.
Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água.
Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente.
Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.

Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.
Agora devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem água.
Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que a agua se utilizava dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA AGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a agua
jamais se podia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão
irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de agua indicada como ideal para beber era oito
copos por dia por pessoa adulta.
Hoje só posso beber meio copo.
A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados
pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas
que já não têm a capa de ozono que os filtrava na atmosfera.

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os
lados.

As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias
urinárias são as principais causas de morte.
A industria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e
pagam-te com agua potável em vez de salário.
Os assaltos por um bidão de agua são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética. Pela ressiquidade da pele uma jovem de 20
anos está como se tivesse 40.

Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar agua, o oxigénio também está degradado por falta de arvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.

Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e
deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por
habitante e adulto.

A gente que não pode pagar é retirada das “zonas ventiladas”, que
estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com
energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade
média é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exercito, a agua tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que o ouro ou os diamantes.

Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registar-se precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas atómicas e da industria contaminante do século XX.

Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens,
beber toda a agua que quisesse, o saudável que era a gente.
Ela pergunta-me: Papá! Porque se acabou a agua?
Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente ou simplesmente não tomámos em conta tantos avisos.

Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que
a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco porque a
destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade
compreendesse isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar o
nosso planeta terra!”

Documento extraído da revista biográfica “Crónicas de los Tiempos” de
Abril de 2002.

(Contribuição de António Rosa – Portugal).

20/06/2009

Bernard Charlot: ensinar com significado para mobilizar os alunos

Filed under: Bernard Charlot,Sociologia — jspimenta @ 23:47

Bernard Charlot

Tatiana Pinheiro

O pesquisador francês investiga na prática como os alunos se relacionam com o saber.

Há 40 anos, vertentes da Sociologia analisam a relação entre o desempenho escolar de uma criança e a classe social que seus pais ocupam. Boa parte das considerações aponta que alunos de camadas populares têm menos chances de ser bem-sucedidos nos estudos do que os jovens de classe média. Mas como explicar um estudante de família desfavorecida que se sai bem na escola? E o aluno de família abastada que fracassa em sua trajetória escolar?

Pesquisador francês radicado no Brasil, Bernard Charlot se voltou para essas questões na década de 1980, ainda em Paris, e trabalhou em um conceito que explica de maneira mais abrangente e menos preconceituosa histórias de sucesso e de fracasso escolar: a relação com o saber.

Essa é uma condição que se estabelece desde o nascimento, uma vez que “nascer significa ver-se submetido à obrigação de aprender”, escreveu Charlot. A condição humana exige que seja feito um movimento, “longo, complexo e nunca acabado”, no sentido de se apropriar (parcialmente) de um mundo preexistente. Essa apropriação obrigatória desencadeia três processos: de hominização (tornar-se homem), singularização (tornar-se exemplar único) e socialização (tornar-se membro de uma comunidade).

O ato de construir-se e ser construído pelos outros é a própria Educação, entendida de forma ampla, em situações que ocorrem dentro e fora da escola. É por meio de suas experiências que a criança toma contato com as muitas maneiras de aprender. Ela pode adquirir um saber específico, no sentido de compreender um conteúdo intelectual (a gramática, a Matemática, a história da arte etc.), pode dominar um objeto ou uma atividade (como caminhar, amarrar os sapatos, nadar etc.) e pode aprender formas de se relacionar com os outros no mundo (saber como cumprimentar as pessoas, ter boas maneiras à mesa etc.).

Nesse ir-e-vir da relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo, toma forma o desejo de aprender. É esse desejo que propulsiona a criança em direção ao saber. Em pesquisas de campo, Charlot e sua equipe identificaram que esse “direcionar-se para o saber” pressupõe um movimento de mobilização – e não simplesmente de motivação. “O conceito de mobilização se refere à dinâmica interna, traz a ideia de movimento e tem a ver com a trama dos sentidos que o aluno vai dando às suas ações”, explica Jaime Giolo, professor titular da pós-graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (UPF) e estudioso do pensamento de Charlot. “A motivação, por sua vez, tem a ver com uma ação externa, enfatizando o fato de que se é motivado por alguém ou algo.”

Ensinar com significado para mobilizar os estudantes

Como acionar nos alunos mecanismos de interesse pelo saber? Como notar que relação os estudantes estabelecem com o saber escolar? Segundo contou o próprio Charlot em entrevista a NOVA ESCOLA de Aracaju, cidade onde mora atualmente, suas pesquisas ainda devem uma resposta mais completa para essas perguntas, principalmente quando o olhar se volta para alunos de periferias – na França, na Tunísia, na República Tcheca ou no Brasil, países em que ele coordenou estudos. O que se sabe é que, quanto mais significativo for o que está sendo ensinado, mais o aluno se põe em movimento, se mobiliza para se relacionar com aquele conteúdo. Mas essa situação, que seria a ideal, não é a predominante.

Os estudos de Charlot apontam que a maioria dos estudantes – quase 80% deles – só vê sentido em ir à escola para conseguir um diploma, ter um bom emprego e ganhar dinheiro e levar uma vida tranquila. Nesse discurso, não há a menção ao fato de aprender. “Esses jovens que ligam escola e profissão sem referência ao saber estabelecem uma relação mágica com ambos. Além disso, sua relação cotidiana com o estudo é particularmente frágil na medida em que aquilo que se tenta ensinar a eles não faz sentido em si mesmo, mas somente em um futuro distante”, define o pesquisador.

No caso desses estudantes, o professor Jaime Giolo avalia que se estabelece uma relação mecânica, quase de indiferença, com o saber. Recuperar o sentido do aprender e o prazer em estudar está entre os desafios de hoje. A atividade escolar precisa se apresentar de forma significativa, prazerosa, para merecer o esforço intelectual dos alunos no sentido de se apropriar de diversas porções de saberes produzidos pela humanidade.

Não há uma receita pronta para isso. O que não basta para Charlot é dar a situação por resolvida ao justificar o desinteresse ou o fracasso de alunos por causa da classe social da família ou das carências culturais inerentes à origem deles. Segundo o francês, pensar de maneira determinista lança uma leitura negativa sobre a realidade. Em vez disso, ele sugere uma leitura positiva do indivíduo, levando em conta sua história de vida, seus desejos e suas atividades cotidianas.

Biografia

De Paris a Aracaju, atrás de pistas sobre o ensino

Bernard Jean Jacques Charlot nasceu em Paris, em 1944. Formou-se em Filosofia em 1967 e, dois anos depois, foi lecionar Ciências da Educação na Universidade de Túnis, na Tunísia. De volta à França, em 1973, trabalhou por 14 anos na Ecole Normale, um instituto de formação de docentes. No período de 1987 a 2003, atuou como professor catedrático da Universidade de Paris 8, onde fundou a equipe de pesquisa Escol (Educação, Socialização e Comunidades Locais), voltada para a elaboração dos elementos básicos da teoria da relação com o saber. Após se aposentar, veio para o Brasil. Como professor-visitante da Universidade Federal de Mato Grosso, seguiu fazendo pesquisas até ser convidado para ser visitante na Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju. Desde 2006, é lá que coordena o grupo de pesquisas Educação e Contemporaneidade, engajado em delinear as relações com os saberes e explicitar de que forma os alunos se apropriam deles.

Os caminhos de Charlot

Um passo adiante na Sociologia da reprodução

O estudo da relação do homem com o saber não é novidade. Com outras denominações, Bernard Charlot vê o assunto atravessar a história da Filosofia clássica, desde Sócrates (469-399 a.c), que disse “conhece-te a ti mesmo”, passando por René Descartes (1596-1650) e a formulação da dúvida metódica, até chegar em Hegel (1770-1831) e sua visão de que novos conhecimentos se constroem com base em antigos.

Porém é nas décadas de 1960 e 70 que a expressão “relação com o saber” e outras derivadas podem ser encontradas em maior quantidade nas produções de psicanalistas e sociólogos. Em 1970, por exemplo, Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean Claude Passeron usaram no livro A Reprodução termos como “relação com a linguagem” e “relação com a cultura”.

Mas é Charlot que faz um novo recorte e se volta para o saber nas classes populares. Ele sai do discurso mais teórico para encontrar elementos de compreensão da trajetória escolar de crianças de periferia. Nessa proposta, o sujeito, com seus desejos, ganha importância. Charlot assume para si o pressuposto de que os indivíduos não são simples objetos de pesquisa, mas agentes capazes de subverter a lógica dominante, mesmo que o façam localmente e com o simples intuito de melhorar um pouco o modo de vida.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA

A Mistificação Pedagógica – Realidades Sociais e Processos Ideológicos na Teoria da Educação, Bernard Charlot, 314 págs., Ed. Zahar, tel. (21) 2108-0808 (edição esgotada).
Da Relação com o Saber – Elementos para uma Teoria, Bernard Charlot, 96 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 38 reais.
Os Jovens e o Saber – Perspectivas Mundiais, Bernard Charlot, 152 págs., Ed. Artmed, 38 reais .
Relação com o Saber, Formação dos Professores e Globalização – Questões para a Educação Hoje, Bernard Charlot, 160 págs., Ed. Artmed, 40 reais.

Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/bernard-charlot-ensinar-significado-mobilizar-alunos-476454.shtml

A última professora

Filed under: Educação — jspimenta @ 23:06

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Texto: Carlos Eduardo Novaes

Estamos em 2989 e alguns cientistas, trabalhando nas ruínas de um sítio
arqueológico (local outrora conhecido como Jacarepaguá), encontraram
uma mandíbula de mulher. Levada ao laboratório, descobriu-se que ela
pertencia a uma professora. Não uma professora qualquer, mas
provavelmente a última da espécie classificada como de 1º Grau que
viveu por volta de 2020 num antigo país chamado Brasil.

No final do séc. XXI, o Brasil que conhecemos se tornou um aglomerado de tribos independentes, expressando- se nos mais diferentes idiomas. A descoberta do que ficou conhecido como a Professora de Jacarepaguá (uma versão mais moderna do Homem de Neanderthal) tornou possível encontrar as razões da dissolução do país.

Buscando nos livros, os cientistas perceberam que houve uma época – entre o início do séc. XX e meados dos anos 50 – em que professores desse extinto país ocupavam uma posição invejável na escala social. As famílias monogâmicas das classes médias (e algumas altas) orgulhavam-se de poderem encaminhar suas filhas para a profissão. Casar com uma professora era a aspiração suprema de muitos homens. Elas eram olhadas com respeito, admiração e desfrutavam de um status semelhante ao dos militares.

Reconhecidas na sua missão histórica de educar, recebiam – acreditem –
um salário que chegava ao final do mês. Alguns iam além.
Não se sabe precisar a data, mas parece que foi no final dos anos 70 que o magistério começou a desabar na escala social. Por mais que quebrem a cabeça, nossos cientistas não conseguem entender as razões dessa queda vertiginosa. Não terá sido por falta de escolas, porque o país esforçava-se para entrar na modernidade e necessitava ampliar sua rede escolar. Não terá sido também por falta de quem educar, porque esse atrasado país somava mais de 50 milhões de analfabetos e semiletrados no início dos anos 90. Muito menos pela possibilidade de substituir professoras por robôs, televisores e computadores. Por que então os magistrados passaram a ser tratados como os servos do antigo Egito?

A princípio, suspeitou-se que esse povo atrasado e tropical tivesse uma
caixa craniana inferior a das raças desenvolvidas. Mais tarde,
encontraram- se outras razões para o declínio do magistério: um complô
contra a educação, criado pela classe dominante (10% da população), que detinha mais de 50% da renda nacional. Não interessava a ela ver o
saber democratizado, ou seus privilégios estariam ameaçados. Os
professores despencaram para os últimos lugares da tabela econômica,
equiparando- se aos profissionais (não especializados) mais mal pagos
desse triste país. Alguns, ganhando salário-mínimo, recebiam menos do
que os operários que ajudaram a levantar os Jardins Suspensos da
Babilônia.

O resultado é que, a partir do início do século XXI, o professorado
tornou-se uma espécie em extinção. Documentos da época informaram que, quando uma jovem anunciava o desejo de ser professora, a família a colocava de castigo. Era preferível ganhar a vida como chacrete em programa de auditório. Os cientistas pesquisaram o desaparecimento de outras atividades nesse país: funileiro, cocheiro, acendedor de lampiões. Ocorre que esses profissionais foram engolidos pelos avanços da civilização. No caso dos professores, não há progresso nem tecnologia capaz de substituir sua presença. É a professora quem nos leva pela mão na travessia para as primeiras letras. É ela quem nos coloca no ponto de partida e, com uma palmadinha no traseiro, parece dizer:”Agora vai à luta”.

Segundo os cientistas, os governos da época, preocupados com questões mais transcendentais, não perceberam a escassez de professores no mercado. Foi preciso que as escolas começassem a fechar e os donos das escolas particulares esperneassem desesperados para o governo tomar providências. Que providências?

Importar professores, como fez com o álcool. No início dava-se preferência a Portugal e às ex-colônias. Mas eles também tinham suas
crianças para educar, de modo que o Governo teve que recorrer ao
Paraguai, Bolívia, Guianas. Logo, os países desenvolvidos – que já
dominavam a cultura do Brasil – perceberam o alcance do negócio e
trataram de enviar, gratuitamente, bandos de professores às escolas
brasileiras.

O país tornou-se uma Babel. Em algumas regiões, ensinava-se em japonês; em outras, em alemão ou inglês, ou italiano ou espanhol. Em apenas uma única escola, em Jacarepaguá, uma professora resistia, ensinando os alunos em português. Sua morte tornou-se um marco na história da Educação nesse país. Foi enterrada com honras de herói nacional e o monumento ao “Professor Desconhecido” , erguido no antigo Centro da Cidade, reproduz seu rosto na figura principal. Ao pé do monumento, os dizeres: ” A última professora brasileira, homenagem
dos seus ex-alunos.” Foi a última frase que se escreveu nesse país em
português.

( Jornal O Dia, 02/12/90).

Escola é dominada por preconceitos, revela pesquisa

Filed under: Estudos Culturais — jspimenta @ 21:08

JC e-mail 3786, de 18 de Junho de 2009.

Onde há mais hostilidade, desempenho em avaliação é pior; deficientes e negros são principais vítimas.

O preconceito e a discriminação estão fortemente presentes entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários das escolas brasileiras. As que mais sofrem com esse tipo de manifestação são as pessoas com deficiência, principalmente mental, seguidas de negros e pardos. Além disso, pela primeira vez, foi comprovada uma correlação entre atitudes preconceituosas e o desempenho na Prova Brasil, mostrando que as notas são mais baixas onde há maior hostilidade ao corpo docente da escola.

Esses dados fazem parte de um estudo inédito realizado em 501 escolas com 18.599 estudantes, pais e mães, professores e funcionários da rede pública de todos os Estados do País. A principal conclusão foi de que 99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. Do total, 96,5% têm preconceito em relação a pessoas com deficiência e 94,2% na questão racial.

“A pesquisa mostra que o preconceito não é isolado. A sociedade é preconceituosa, logo a escola também será. Esses preconceitos são tão amplos e profundos que quase caracterizam a nossa cultura”, afirma o responsável pela pesquisa, o economista José Afonso Mazzon, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA). Ele fez o levantamento a pedido do Inep e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, órgãos do Ministério da Educação (MEC).

Segundo Daniel Ximenez, diretor de estudos e acompanhamento da secretaria, os resultados vão embasar projetos que possam combater preconceitos levados para a escola – e que ela não consegue desconstruir, acabando por alimentá-los. “É possível pensarmos em cursos específicos para a equipe escolar. Mas são ações que demoram para ter resultados efetivos.”

Bullying

A pesquisa mostrou também que pelo menos 10% dos alunos relataram ter conhecimento de situações em que alunos, professores ou funcionários foram humilhados, agredidos ou acusados injustamente apenas por fazer parte de algum grupo social discriminado, ações conhecidas como bullying. A maior parte (19%) foi motivada pelo fato de o aluno ser negro. Em segundo lugar (18,2%) aparecem os pobres e depois a homossexualidade (17,4%). No caso dos professores, o bullying é mais associado ao fato de ser idoso (8,9%). Entre funcionários, o maior fator para ser vítima de algum tipo de violência – verbal ou física – é a pobreza (7,9%).

Nas escolas onde as agressões são mais intensas, o desempenho na Prova Brasil é menor. “É lamentável e preocupante verificar que isso ocorre, mas os dados servem como alerta para que a escola possa refletir e agir para modificar esse cenário”, diz Anna Helena Altenfelder, educadora do Cenpec. “As pessoas não são preconceituosas por natureza. O preconceito é construído nas relações sociais. Isso pode ser modificado.” (Simone Iwasso e Fábio Mazzitelli)

Homens e religiosos discriminam mais

Além do preconceito generalizado que aparece entre todos os atores escolares, a pesquisa feita pela Faculdade de Economia e Administração da USP aponta algumas características que influenciam nas diferenças de preconceito dos alunos. O principal dado mostra que os homens são mais preconceituosos e discriminadores do que as mulheres. Por exemplo, homens têm 9% mais preconceitos contra negros, 8% mais preconceito contra portadores de deficiências e 7,7% mais preconceito contra pobres.

Outro fator relevante estatisticamente é a participação religiosa. Estudantes que afirmaram ter uma participação religiosa forte são mais preconceituosos em geral e têm 2,2% mais preconceitos contra mulheres, 2,1% contra gerações e 6,1% contra homossexuais. “É interessante analisar detalhadamente por que a religião torna os jovens mais preconceituosos”, afirma o autor da pesquisa, José Afonso Mazzon.

Na outra ponta, o acesso à mídia (jornais, televisão, livros) contribui para que o preconceito diminua. Em geral, estudantes bem informados se mostraram menos preconceituosos. “A pesquisa é muito importante e mostra como só com o aumento da inclusão, com a presença desses atores discriminados na escola, vamos conseguir combater esse preconceito”, analisa Cláudia Werneck, fundadora da Escola de Gente. (Simone Iwasso)
(O Estado de SP, 18/6/09.

MANIFESTO EM DEFESA DA EDUCAÇÃO E DOS PROFESSORES

Filed under: Ética,Cidadania,Educação,Manifesto — jspimenta @ 19:54

greve

A educação é um patrimônio da Nação. Ela não é bandeira
de grupos, partidos ou governantes, mas instrumento para o desenvolvimento econômico, social e cultural do País. A educação pública de qualidade pode abrir as portas do futuro para milhões de brasileiros.

O professor representa a alma e o motor do processo educativo. Entretanto, ele está submetido a intensas pressões e trabalha em condições muito adversas, que não correspondem à importância de seu papel social nem às necessidades objetivas e subjetivas de um ensino de qualidade.
No Estado de São Paulo esta situação é bastante acentuada,
sobretudo se considerarmos que se trata do maior
Estado da Federação que, no entanto, oferece apenas o
décimo salário entre todos os estados do País. Ao mesmo
tempo, sucessivos governos estaduais vêm fomentando entre
os professores uma descabida competitividade, através de
políticas como a de bônus, que supostamente premia os
“melhores”, mas que, na verdade, objetivamente pune os
professores.

Não é possível aplicar na escola pública métodos e procedimentos
típicos da gestão de uma empresa privada. A educação
é uma relação dialógica entre seres humanos; ela não
produz matéria, mas forma cidadãos. Assim, conceitos como
“eficiência” e “produtividade” são critérios inadequados de
aferição da qualidade da educação. Antes, ela deve ser medida
pela sua capacidade de contribuir para alterar destinos
e para transformar a realidade em que vivemos.

Por estas razões, não podemos concordar com a postura
que vem sendo adotada pelas autoridades educacionais
da estrutura da Secretaria Estadual da Educação, as
quais buscam responsabilizar os professores pelas deficiências
decorrentes da ausência de políticas educacionais
efetivas no âmbito da rede estadual de ensino.

Ao invés de políticas de valorização profissional, gratificações
e bônus que aviltam o salário e prejudicam os professores
a médio, longo prazos. Ao invés de formação continuada
em serviço, “treinamentos” e “provinhas”, cujo propósito
é manter muitos milhares de professores na insustentável
condição de “temporários”. Ao invés do reconhecimento
que corresponda ao insubstituível papel desta categoria
na nossa sociedade, tentativas constantes de
desqualificação, que minam a auto-estima de toda uma
geração de mestres que se dedicam à tarefa de ensinar
mesmo em condições de violência, condições estruturais
sofríveis e, sobretudo, uma total ausência de diálogo e de
liberdade para participar da construção dos projetos político-
pedagógicos das unidades escolares.

Por todas estas razões, e tantas outras que aqui poderíamos
expor, é que nós, que subscrevemos este manifesto,
vimos a público nos solidarizar com os professores da rede
estadual de ensino de São Paulo neste momento em que
sofrem tantos ataques por parte do Poder Público. Nossa
solidariedade nada tem a ver com aquela concessão que
os supostamente mais fortes fazem aos mais fracos; ela
significa compromisso em torno de uma causa que nos
une a todos, que temos em perspectiva uma Nação mais
próspera e mais justa, onde todos os brasileiros sejam cidadãos
plenos de direitos.

São Paulo, junho de 2009.

Quem desejar subscrever o manifesto informar
NOME, PROFISSÃO, INSTITUIÇÃO

e enviar para o seguinte e-mail:
edsonrn@gmail.com

Conspiração espiritual…

Filed under: Uncategorized — jspimenta @ 19:50

ANJOS

Na superfície da terra exatamente agora há guerra e violência e tudo parece negro.

Mas, simultaneamente, algo silencioso, calmo e oculto está acontecendo e certas pessoas estão sendo chamadas por uma luz mais elevada.

Uma revolução silenciosa está se instalando de dentro para fora. De baixo para cima.

É uma operação global.

Uma conspiração espiritual.

Há células dessa operação em cada nação do planeta.

Vocês não vão nos assistir na TV.

Nem ler sobre nós nos jornais.

Nem ouvir nossas palavras nos rádios.

Não buscamos a glória.

Não usamos uniformes.

Nós chegamos em diversas formas e tamanhos diferentes.

Temos costumes e cores diferentes.

A maioria trabalha anonimamente.

Silenciosamente trabalhamos fora de cena.

Em cada cultura do mundo.

Nas grandes e pequenas cidades, em suas montanhas e vales.

Nas fazendas, vilas, tribos e ilhas remotas.

Você talvez cruze conosco nas ruas.

E nem perceba…

Seguimos disfarçados.

Ficamos atrás da cena.

E não nos importamos com quem ganha os louros do resultado, e sim, que se realize o trabalho.

De vez enquanto nos encontramos pelas ruas.

Trocamos olhares de reconhecimento e seguimos nosso caminho.

Durante o dia muitos se disfarçam em seus empregos normais.

Mas à noite, por atrás de nossas aparências,o verdadeiro trabalho se inicia.

Alguns nos chamam do Exército da Consciência.

Lentamente estamos construindo um novo mundo.

Com o poder de nossos corações e mentes.

Seguimos com alegria e paixão.

Nossas ordens nos chegam da Inteligência Espiritual e Central.

Estamos jogando bombas suaves de amor sem que ninguém note; poemas, abraços, musicas, fotos, filmes, palavras carinhosas, meditações e

preces, danças, ativismo social, sites, blogs, atos de bondade…

Expressamos- nos de uma forma única e pessoal.

Com nossos talentos e dons.

Sendo a mudança que queremos ver no mundo.

Essa é a força que move nossos corações.

Sabemos que essa é a única forma de conseguir realizar a transformação.

Sabemos que no silêncio e humildade temos o poder de todos os oceanos juntos.

Nosso trabalho é lento e meticuloso.

Como na formação das montanhas.

O amor será a religião do século 21..

Sem pré-requisitos de grau de educação.

Sem requisitar um conhecimento excepcional para sua compreensão.

Porque nasce da inteligência do coração.

Escondida pela eternidade no pulso evolucionário de todo ser humano.

Seja a mudança que quer ver acontecer no mundo.

Ninguém pode fazer esse trabalho por você.

Nós estamos recrutando.

Talvez você se junte a nós.

Ou talvez já tenha se unido.

Todos são bem-vindos.

A porta está aberta.

Arraiá em Brasília!

Filed under: Uncategorized — jspimenta @ 19:34

panfleto_brasilia350

18/06/2009

Os professores e o ensino

Filed under: Educação,Professores — jspimenta @ 23:43

Opinião – publicado no jornal Correio Popular de Campinas, 16/06, pág.03.

EDISON LINS
edison.c.lins@gmail.com 

Nas sucessivas avaliações sobre a qualidade da nossa educação, em especial
a educação básica pública, o papel do professor, invariavelmente, é
colocado em evidência. E não faltam manifestações no sentido de tentar
culpar a este importante profissional pelos resultados negativos. Isso,
além de ser injusto em si, é uma assertiva que provoca generalizações,
reforçando a injustiça e, pior de tudo, desvia o olhar de questões que
fazem parte do complexo e abrangente universo da educação e determinantes do seu quadro atual, retirando ou diminuindo responsabilidades decisivas, ou seja, da falta de maior investimento, as políticas educacionais traçadas e as medidas complementares que as regulamentam, o papel dos demais componentes da rede educacional, inclusive supervisores, diretores, coordenadores, a falta de estrutura e ainda a ausência da família no acompanhamento da vida escolar de seus filhos ou dependentes, muito raramente são abordadas à altura de suas responsabilidades nos resultados.

É preciso objetivamente dizer que os professores, em sua absoluta maioria,
estão compromissados com a qualidade do ensino público. Isso se dá no
cotidiano de uma ação profissional que precisa sempre estar atualizada,
interativa e motivadora para que seja paradigma aos alunos. É indubitável
gesto de compromisso com a qualidade da educação, o fato de milhares de
professores paulistas, certamente há exemplos em outros estados, que por
muitos sábados abriram mão de momentos de descanso e convívio familiar
para participar dos cursos de formação continuada, oferecidos pelo chamado programa Teia do Saber, disponibilizado pelo governo estadual. Outras centenas de professores, da rede citada, já obtiveram ou buscam o título acadêmico de mestrado ou doutorado ou outras especializações sem que todo este esforço seja plenamente reconhecido, até mesmo pelo incentivo de discutir ou aplicar a pesquisa realizada no cotidiano da rede, ou numa carreira truncada e que requer urgente revisão.

Revisão que aponte para mecanismos de efetiva possibilidade de progressão
funcional sem que isso signifique a morosidade de uma tramitação
extremamente burocratizada. O apontamento das causas, sem limitar-se
preponderantemente a um único ponto sendo este ainda bastante discutível,
que permita colocar em discussão boa parte dos fatos que determinam o
preocupante quadro atual da nossa educação básica pública, além de não
considerar que a família também tem imensa responsabilidade nos resultados educacionais. Haja vista a baixa presença dos pais em reuniões convocadas pelas escolas públicas, um componente que interfere diretamente na melhoria dos espaços educacionais.

Se o professor tem papel decisivo no processo educacional, é preciso
reconhecer na prática tal importância, a começar pela interrupção de
abordagens simplistas que atribuem a este profissional a quase exclusiva
responsabilidade pelas mazelas educacionais do sistema público.

Um outro ponto a ser discutido: está somente na educação pública o
universo de problemas da escola básica brasileira?

Valorizar o professor implica em reconhecer seu trabalho em vários
aspectos. Pesquisas apontam que mais de 80% dos professores se sentem
desvalorizados pela sociedade. O cenário não muda nem dentro do contexto
de sua atuação, pois 75% dos professores sentem que a administração da
escola ou os gestores externos não reconhecem a importância da categoria.
A constatação é da pesquisa A Qualidade da Educação sob o Olhar do
Professor, da Fundação SM e da Organização dos Estados Ibero-americanos,
que alcançou, em 2007, mais de 8 mil professores em 19 estados
participaram do estudo.

Tal sentimento de desvalorização, a falta de perspectiva de bons salários
ou de uma carreira que efetivamente o desenvolva profissionalmente,
impacta as novas gerações uma vez que se constata, em escala crescente,
que os jovens não procuram o magistério como alternativa profissional, o
que traz projeções sombrias para o futuro educacional. Reiteramos que a
absoluta maioria dos professores da escola básica está compromissada com
uma educação de qualidade e formadora de cidadãos. E da importância do seu papel no processo educacional. Que isto seja reconhecido pelos governos e pela sociedade.

Edison Cardoso Lins é mestre em Educação, funcionário da Unicamp e
professor da rede pública estadual.

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