E d u c A ç ã o

17/04/2009

Como vivem os índios hoje?

Filed under: Índios,Cultura,Educação — jspimenta @ 23:03

Descubra como é o dia-a-dia dos grupos indígenas no século 21
 

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Em 19 de abril, celebra-se o Dia do Índio. Ótima oportunidade para que você se pergunte: como vivem hoje os primeiros habitantes do Brasil? Muito tempo se passou desde que os portugueses chegaram aqui e conheceram esses povos cheios de tradições. Mais de 500 anos depois, qual é o resultado desse encontro de culturas? Pegue seu cocar e embarque nessa viagem ao mundo indígena moderno!

Por toda a parte…
 
Você, que está acostumado a pensar que os índios vivem na floresta, já os imaginou morando no meio do sertão? Ou na beira da praia? Pois saiba que isso é comum, especialmente na região Nordeste! Apesar disso, a maioria dos 740 mil indígenas encontrados hoje no Brasil habita regiões de floresta, em terras destinadas pelo governo a eles. Muitas dessas terras ficam no estado do Amazonas, mas também existem grupos indígenas nos outros estados da região Norte e na região Centro-Oeste, além do Nordeste e do Sudeste.

Nessas terras, os índios vivem em aldeias, em que geralmente eles mesmos produzem seu próprio alimento. As famílias se ajudam e as crianças são criadas livremente. Até aí, nada diferente dos indígenas que viviam por aqui há 500 anos. Mas saiba que, nesse tempo, muita coisa mudou. “Os índios não poderiam ter vivido em contato com o homem branco por cinco séculos e continuarem exatamente da mesma forma”, explica o antropólogo João Pacheco de Oliveira, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quer um exemplo? “É muito difícil encontrar hoje índios sem roupa em uma aldeia”, conta.

Mistureba!

Os índios atuais absorveram diversas práticas que não pertencem à sua cultura. Muitas crianças indígenas frequentam escolas, mantidas nas aldeias pela Fundação Nacional do Índio, e aprendem o português. Mas isso não quer dizer que os indígenas tenham abandonado suas tradições, como os rituais religiosos e as danças.

“A troca cultural não destrói necessariamente uma cultura”, explica João Pacheco. “É natural que a primeira reação do ser humano ao ver as tradições de outro povo seja a curiosidade e não a hostilidade. Os indígenas têm a possibilidade de praticar as duas culturas, sem se tornarem menos índios por causa disso.”

Quer ver como é possível? Quando alguém fica doente em uma aldeia, a pessoa é tratada ali mesmo. Isso porque os índios têm muitos conhecimentos para utilizar ervas e plantas no tratamento de moléstias. Além disso, existe o pajé, um curandeiro responsável por cuidar dos doentes. Mas, quando o caso é grave e não pode ser resolvido dentro da aldeia, o jeito é levar o doente a um hospital.

Nas cidades

Agora que você já conhece essa mistura cultural, não vai se surpreender tanto ao descobrir que os índios chegaram às grandes cidades. “Em lugares como Manaus e São Paulo, eles têm movimentos organizados”, conta João Pacheco de Oliveira. “Assim, conseguem manter uma vida coletiva de cooperação e promover encontros em que mantém suas atividades rituais.”

Depois de saber de tudo isso, dá para ver que pessoas de diferentes culturas podem conviver em harmonia e aprender uns com os outros. “Conviver com índios seria uma experiência maravilhosa para qualquer criança. Eles têm muito a contar e a ensinar”, garante João Pacheco de Oliveira. De fato, quem aí não gostaria de ter um amigo indígena? 

Tatiane Leal
Ciência Hoje das Crianças
17/04/2009

Disponível em:  http://cienciahoje.uol.com.br/143036

Biblioteca da Floresta disponibiliza Livros de Paulo Freire para DOWNLOAD GRATUITO

Filed under: Download,Educação,Educadores Brasileiros,Livros,Paulo Freire — jspimenta @ 16:34

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A Biblioteca da Floresta da Ministra Marina Silva é especializada em assuntos  e  autores da Amazônia e do Acre. Entre seus objetivos consta:

 (1) organizar a informação histórica e atual sobre  desenvolvimento
 sustentável;
 (2) tornar acessíveis ao público os trabalhos de pesquisas acadêmicas e
 técnicas;
 (3) divulgar os resultados de estudos, pesquisas e projetos em execução na
 região; e
 (4) promover o diálogo entre  os saberes dos povos da floresta e o saber
 científico.

Nela, podemos encontrar outras preciosidades como a obra de Paulo Freire desbloqueadas pra impressão/download  no  site:

 http://www.ac.gov.br/bibliotecadafloresta/biblioteca/index.php?option=com_content&task=view&id=638&Itemid=128

 São livros importantíssimos de um pensador brasileiro comprometido
 profundamente com as causas sociais. O  material é inovador, criativo,
 original e tem importância histórica inédita.

 – A importância do ato de ler

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/A_importancia_do_ato_de_ler.pdf

 – Ação Cultural para a Liberdade

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/Acao_Cultural_para_a_Liberdade.pdf>

 – Extensão ou Comunicação

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/Extensao_ou_Comunicacao1.pdf

 – Medo e Ousadia

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/MedoeOusadia.pdf

 – Pedagogia da Autonomia

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/PedagogiadaAutonomia-P%5B1%5D.Freire.pdf

 –  Pedagogia da Indignação

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/PedagogiadaIndignacao-P%5B1%5D.Freire.pdf

 – Pedagogia do Oprimido

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/PedagogiadoOprimido-P%5B1%5D.Freire.pdf

 – Política e Educação

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/PoliticaeEducacao-P%5B1%5D.Freire.pdf

 – Professora sim, Tia não

 http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca/LIVROS_PAULO_FREIRE/Professora_sim,_Tia_nao.pdf

Disponível em: http://www.ac.gov.br/bibliotecadafloresta/biblioteca/index.php?option=com_content&task=view&id=638&Itemid=128

Quem vai ensinar – e o quê – aos alunos do século XXI?

Filed under: Educação,Educação no Século XXI — jspimenta @ 15:56

Revista Veja 

(Caio Barretto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause)

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Uma sala de aula com carteiras enfileiradas diante de um quadro negro. Os alunos, calados, prestam atenção no professor. Memorize esta cena: ela está com os dias contados. A entrada das novas tecnologias digitais na sala de aula criou um paradigma na educação: como tais ferramentas, que os alunos, não raro, já dominam, podem ser aproveitadas por professores que, frequentemente, mal as conhecem? As escolas têm, pela frente, um desafio e uma oportunidade. O desafio: formular um projeto pedagógico que contemple as inovações tecnológicas e promova a interatividade dos alunos. A oportunidade: deixar para trás um modelo de ensino que se tornou obsoleto no século XXI.

O novo aluno é o responsável por esta mudança. Por ter nascido em um mundo transformado pelas novas tecnologias, ele exige um professor e uma escola que dialoguem com ele, e não apenas depositem informações em sua cabeça. E mais: ele quer ser surpreendido. Tarefa difícil, pois o jovem estudante de hoje encontrou, na internet, uma fonte de informações nunca antes existente. Livros, almanaques e enciclopédias eram as principais ferramentas de pesquisa até o início da década de 90, quando os computadores começaram a chegar às residências do país. Agora, com um clique, ele pode acessar todas as enciclopédias do mundo. O que muda com isso é, em primeiro lugar, o papel do professor.

“É um momento difícil para o educador, pois o modelo de ensino que ele aprendeu era baseado no poder que ele representava na sala de aula, típico de uma sociedade mais passiva que a de hoje”, diz Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio e diretora executiva da Instructional Design Projetos Educacionais. Mas o novo aluno, segunda Andrea, é diferente: “Ele quer participar, quer fazer suas próprias escolhas. Os professores têm que se reinventar”. Para ela, o professor não pode mais ser uma figura autoritária: ele precisa ser capaz de aprender com os educandos e de admitir que não tem todas as respostas.

As palavras de Andrea encontram eco fora do Brasil. O americano Marc Prensky, um dos principais consultores educacionais dos Estados Unidos e designer de jogos educativos, afirma ser necessária uma nova relação entre professor e aluno, baseada em uma parceria: “O estudante faz aquilo que tem de melhor (como buscar informações e usar as tecnologias para criar algo novo), e o professor, por sua vez, também faz o seu melhor, que é orientar reflexões, avaliar o comprometimento dos alunos e criar um contexto favorável”. Por “contexto favorável” entenda-se uma nova pedagogia: algo como deixar que os alunos aprendam por seus próprios caminhos, mas com a orientação do professor.

Se o papel do educador está em transformação, as escolas também vivem um período de transição. Elas precisam se adequar não só ao novo aluno, mas também à nova formação de seu corpo docente. “A internet tornou o aluno mais livre. Ele pode aprender em qualquer lugar, a qualquer hora. A escola já sabe disso, mas ainda é muito tradicional, pois resiste à mudança inevitável”, acredita o espanhol José Manuel Moran, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Mas para mudar não basta trocar o quadro negro pela lousa digital: é preciso ir além e inovar na forma de ensino, pois, como acredita Moran, a internet e as novas tecnologias são um ponto de partida. Nunca de chegada.

O novo aluno: domínio tecnológico desafia a pedagogia

Imersos num universo rico em equipamentos e ferramentas como Google, iPod, MSN, celular, YouTube, Orkut, Facebook, estudantes reinventam a forma de se informar e gerar conhecimento. Hoje, crianças e jovens têm amigos, em todas as partes do mundo, que encontram a qualquer hora do dia ou da noite na tela do computador. Eles conversam com colegas da classe ao lado por meio de SMS, conhecem pessoas e estudam em comunidades virtuais. Por parecer incrível para os mais velhos, mas não é rara a criança que navega na internet com destreza antes mesmo de saber ler ou escrever. Esse novo mundo permite exemplos que desafiam a pedagogia atual. É o caso das irmãs Alice Godinho, de 5 anos, e sua irmã Isadora, de 7. Juntas, elas formam uma espécie de cooperação digital. Este ano, Alice pediu um notebook de aniversário. “Escolheu um rosa, porque é a cor preferida dela”, conta Carla, mãe das meninas. Alice, que cursa a primeira série em um colégio particular de São Paulo, ainda não está totalmente alfabetizada. “Isso não impede que ela navegue no YouTube, ou entre em sites do colégio para fazer tarefas”, garante Carla, que revela um detalhe curioso: “Já percebi que toda vez que a Isadora pede o notebook emprestado, Alice concorda. Mas ela sempre senta ao lado da irmã, porque já entendeu que observando ela aprende”.

A discussão sobre o “bem e o mal” em passar horas na frente de um computador não existe para esse novo estudante. A maioria já concilia vida virtual e real com equilíbrio. Vitor Marellitut, de 14 anos, garante que não deixa de sair ou ver os amigos pessoalmente em troca do MSN, ou sites de relacionamento. Admite que fica pelo menos quatro horas sentado em frente ao computador todos os dias, mas garante que sabe discernir entre tempo de diversão e aprendizado. “Minha mãe não reclama. Ela sabe que eu jogo, mas também faço pesquisas e estudo”, explica.

Crescimento exponencial do uso da Internet
Resposta estimulada e múlitpla
Perfil: Jovens de 12 a 30 anos, classes ABC. Margem de erro 2%

2005
Orkut – 14%
Compras/comparação de preço – 14%
Mensagens instantâneas – 43%
Download de músicas – 50%
Ouvir músicas – 69%
Blogs pessoais – 12%
Fonte: dossiê universo jovem MTV 2008
2008
Orkut – 83%
Compras/comparação de preço – 40%
Mensagens instantâneas – 81%
Download de músicas – 69%
Ouvir músicas – 73%
Blogs pessoais – 21%

Internet para comunicar, conhecer e se divertir

Resposta estimulada e múltipla
Perfil: Jovem de 12 a 30 anos, classe ABC. Margem de erro 2%

Enviar e receber e-mail – 84%
Visitar página de Orkut e amigos – 83%
Troca de mensagem instantânea – 81%
Fazer pesquisa para escola ou trabalho – 75%
Ouvir música em geral – 73%
Fazer download de músicas – 69%
Fonte: dossiê universo jovem MTV 2008

É comum, que adolescentes como Vitor, tenham a rotina abarrotada de novidades tecnológicas. Assim como é comum também que eles saibam usar essas novidades com habilidade – quase sempre, várias ao mesmo tempo. Navegam na internet, baixam programas de games, enquanto conversam no MSN, ouvem música no iPod ou usam o celular. E, é claro, a capacidade que esses jovens adquiriram de dividir a atenção em várias fontes simultâneas de informação exige uma nova estratégia do professor. O americano Marc Prensky, consultor educacional e designer de jogos educativos, diz que a aparente dispersão do jovem de hoje frente às diversas ferramentas tecnológicas é uma ilusão. “O aluno aprende quando está engajado em determinadas atividades – seja explorando possibilidades de resultado para um problema; em um joguinho de computador; ou simplesmente explorando algo desconhecido. ” Na sala de aula, a história pode ser outra. Com oito anos de experiência em lecionar e ciente desse novo aluno, o professor de geografia Gilberto Soares, do colégio Miguel Cervantes em São Paulo, constata: “São talentosos em fazer várias atividades simultâneas, mas não conseguem ficar focados muito tempo em um determinado assunto”. O acesso à informação também torna o estudante mais crítico. “Há casos em que a gente passa um dado na classe e o aluno checa em casa, para ver se é verdade. É uma espécie de disputa pelo poder”, ressalta Gilberto. Nem tudo, porém, a tecnologia consegue mudar para melhor. A cola – um artifício tão antigo quanto o aprendizado – não deixou de existir. Só adquiriu contornos inusitados. Segundo o professor Soares, já houve casos em que alunos terminaram provas e mandaram mensagem de textos (pelo celular) para os amigos que ainda estão sendo avaliados. “Eles são criativos, já encontrei uma cola inteira digitada dentro de um iPod”.  

A maioria dos professores e especialistas concorda que não é mais possível distanciar o novo aluno dessas modernidades tecnológicas. O desafio é justamente tirar o melhor proveito desses recursos. A lousa digital, por exemplo, já é comum em muitas escolas do país, é uma das coisas mais apreciadas por crianças e jovens. “Esses novos quadros são extremamente visuais”, reconhece Juana Ordonez, professora de ciência naturais do colégio Miguel Cervantes, em São Paulo. “Antes de começar a aula, é necessário calibrar a imagem e fazer alguns testes com o computador. Em geral, os alunos adoram fazer essa calibragem”, diz. “A gente deixa. Afinal, eles entendem disso melhor que nós”. (Caio Barretto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause). 
 
O papel do professor: guiar o aprendizado
 
A facilidade com que os alunos interagem com a tecnologia também impôs uma mudança de comportamento em sala de aula. Hoje, já não é exclusividade dos mais jovens manter blogs, atualizar perfis em redes sociais ou bater papo com amigos na internet. A geração digital passou a exigir que o professor fizesse o mesmo – e ele está mudando pouco a pouco. Os motivos são claros. Em um mundo onde todos recorrem à rapidez do computador, nenhuma criança aguenta mais ouvir horas de explicações enfadonhas transcritas em uma lousa monocromática. “A tecnologia faz parte do cotidiano de todos os jovens. Os alunos esperam que o professor se utilize disso em sala de aula. Seu papel mudou completamente, mas continua essencial. Ele guia o processo de aprendizagem, sendo o elo entre o aluno e a comunidade científica”, afirma Linda Harasim, professora da Universidade Simon Fraser, em Vancouver, no Canadá.  

O problema é, justamente, adaptar a tecnologia ao conteúdo pedagógico. É consenso entre os especialistas que não basta apenas investir em laboratórios, salas multimídia e projetores de luz. Muitas escolas, mesmo aquelas que gastam rios de dinheiro em equipamentos de última geração, deixam de lado o treinamento dos professores. Sem mudança na metodologia, as novas ferramentas são subtilizadas. “Passamos praticamente uma década do novo milênio e nosso modelo educacional ainda reflete a prática dos séculos XIX e XX. A internet ainda é usada, geralmente, como tampa-buraco ou enfeite nas salas de aula tradicionais” , acrescenta Harasim. O professor de informática Jean Marconi, de Brasília, acompanhou de perto a dificuldade imposta pelos novos recursos tecnológicos. Quando o colégio onde trabalha investiu pela primeira vez em equipamentos digitais, a direção não se preocupou em desenvolver um novo método de ensino nem capacitar os professores. Marconi aproveitou a formação em tecnologia da educação e propôs à escola treinar seus colegas. Hoje, segundo ele, todos já têm contato com as novidades e criam projetos para suas próprias disciplinas. “O colégio tinha a proposta, mas andava a passos lentos. Fui, então, de professor em professor despertando a curiosidade. Consegui que houvesse uma integração entre o conhecimento do educador e a tecnologia. Mas há alguns que ainda têm medo de mexer com essas ferramentas” .

Para a pedagoga Sílvia Fichmann, coordenadora do Laboratório de Investigação de Novos Cenários de Aprendizagem (LINCA) na Escola do Futuro da USP, um dos motivos pelos quais os professores ainda resistem em utilizar a tecnologia é o receio de perder o posto de detentor único de conhecimento. “A internet rompeu com uma série de paradigmas. O professor, hoje, tem de se conscientizar de que não sabe tudo e precisa ser muito mais parceiro do aluno na busca pelo saber”, afirma. Sílvia diz que não é fácil lidar com as novas ferramentas, mas cabe ao educador coordenar e orientar as tarefas. “O problema é que existem três tipos de professor: os que preferem o método tradicional, aqueles que não sabem utilizar a tecnologia e, finalmente, os que se adaptaram ao novo contexto. Eles convivem em uma mesma sala de aula, o que impede a adoção completa da tecnologia”, completa. Lousa interativa – As novas ferramentas nunca preocuparam a professora de Ensino Fundamental Éride Rosseti (na foto ao lado), de São Paulo. Com 32 anos de magistério, a educadora assistiu a passagem do quadro-negro para o magnético e maneja, agora, sem problemas a lousa interativa, que permite salvar as tarefas feitas pelos alunos, além de exibir imagens, músicas e vídeos. Incentivada pelo colégio, ela participa de cursos de capacitação e é usuária da comunidade virtual da escola, na qual posta comentários sobre as aulas e exercícios de fixação. “Com a tecnologia, posso interagir com os alunos em tempo real. É uma forma de eles não se sentirem sozinhos quando estão fazendo a lição em casa. As crianças adoram e o professor tem de cumprir o papel social de abraças as novas tecnologias” , diz.

Criar um blog foi a alternativa encontrada pela professora de ciências carioca Andrea Barreto para incentivar o hábito da leitura entre seus alunos da rede pública. Sem recursos, ela criou um espaço virtual, no qual os jovens podem tirar dúvidas e participar das discussões feitas em sala de aula. “Percebi a necessidade de ensinar dentro desse novo contexto depois que vi o desinteresse dos alunos. Mesmo os alunos mais carentes acessam a internet das lan houses e isso aumentou o rendimento”, observa. Mas a educação high-tech também oferece riscos, sobretudo devido à variedade de informação presente na web. Com a experiência de quem mantém um blog, tem conta no Orkut e usa diariamente o MSN, o professor de química Paulo Marcelo Pontes, de Recife, diz que não há como evitar que um aluno deixe de acessar bate-papo ou qualquer outra ferramenta disponível na rede. “Competir com isso traz mais desestímulo do que satisfação. O professor tem de produzir materiais e conteúdos que façam os estudantes participarem ou se interessarem pelo que está sendo divulgado”, conclui. (Caio Barretto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause).

O desafio da escola: manter-se indispensável

Diante de um novo aluno e da necessidade de um novo tipo de professor, as escolas atuais encontram um desafio que há muito tempo não se desenhava: manter-se indispensável. Não é uma tarefa fácil, considerando que a escola atual deve não só atender às demandas que surgiram nos últimos anos – e são muitas – como também preparar-se para um futuro próximo de mudanças tão rápidas e intensas quanto as que ocorrem com o comportamento de seus alunos. Já é rotina em centros urbanos do país, estabelecimentos equipados com internet, que utilizam recursos como diários virtuais e promovem avaliações on-line para atender aos estudantes. Laboratórios estão cada vez mais sofisticados e as ferramentas tecnológicas se multiplicam à disposição dos estudantes. “As instituições precisam estar atentas. Existem alunos com diferentes estilos de aprendizagem, alguns aprendem ouvindo, outros vendo e ainda há aqueles que aprendem fazendo e interagindo” , analisa Silvia Fichmann. “O uso da tecnologia permite à escola atender a esses diferentes estilos de aprendizagem” . Os especialistas, no entanto, insistem que investir em tecnologia não basta. Para Silvia, a maior dificuldade das escolas não é ampliar o uso dos aparatos, mas saber aproveitá-los na metodologia do ensino. “Se a escola investe em tecnologia é preciso pensar na formação dos professores, para que esse investimento beneficie os alunos. Não adianta o professor dar aulas com toda aquela parafernália se a escola não os preparar para o uso efetivo das ferramentas” .

A atenção em relação a esse aspecto já existe em colégios particulares como o Bandeirantes, em São Paulo. Há seis anos alguns professores organizaram um grupo com o objetivo de testar a usabilidade e os resultados de toda tecnologia nova que a escola concordasse em colocar dentro das salas de aula. Foi o que eles fizeram com um controle remoto – o chamado CPS (Classroom Perfomance System) -, que ajuda nas votações feitas pelos alunos em classe. Inicialmente, o controle foi usado para pequenas avaliações, com perguntas relacionadas ao conteúdo ensinado. “Qual o resultado da soma 13 x 7?”, por exemplo. Os professores, no entanto, deduziram que poderiam ampliar o uso do equipamento para traçar o perfil dos estudantes. Atualmente, o colégio promove enquetes para avaliar comportamento, preferências e opiniões dos jovens.

A coordenadora do departamento de tecnologia educacional do colégio Dante Alighieri, Valdenice Minatel, constata que por necessidade nos últimos anos, o método de sua escola também mudou. “Não trabalhamos com formatos prontos. Nós acompanhamos o professor na sala de aula e ajudamos na transição. Se não focarmos nas pessoas, não há qualidade de ensino”, explica. Todo ano, o colégio promove webconferências com cientistas brasileiros a mais de 12 espalhados pelo mundo. Batizado de ’Conexão Antártica”, os alunos conversam em tempo real com os pesquisadores utilizando o comunicador instantâneo Skype. Segundo Valdenice, “a escola tem de executar projetos ligados a uma necessidade pedagógica e utilizar a informática para solucionar problemas”.

Os colégios particulares saíram na frente, mas a tecnologia também está mudando o ensino das escolas públicas. A escola municipal Joaquim Mendonça, em Orindiúva, pequena cidade de 6.000 habitantes na região norte de São Paulo é um exemplo. Referência de vanguarda no ensino público, o colégio atende 936 alunos e possui todas as salas de aula com lousas interativas e internet – coisa antes só vista nas escolas particulares. O investimento foi feito há três anos. “Não foi tão difícil se adaptar às lousas interativas. Mas alguns professores estranharam um pouco. A prefeitura pagou um curso de especialização para todos. Atualmente, temos aulas às terças e quintas-feiras via satélite. É um curso com professores universitários de Ribeirão Preto para melhorar nosso rendimento”, conta Ana Maria Borges Barbosa, diretora da escola.

Mesmo com tantos investimentos, a pesquisadora da UFRGS Léa Fagundes considera que a escola ainda não entrou na cultura digital. “Hoje, esses estabelecimentos querem trazer as ferramentas digitais para continuar ensinando como no modelo industrial. A tecnologia digital não é uma varinha mágica, nem um sistema multiuso e polivalente que serve para tudo. Não depende do professor dizer se é bom ou não, porque hoje ninguém tem a resposta certa. Estamos todos em busca da verdade”, acredita. “As condições culturais para a mudança pedagógica já estão dadas. A questão agora é apropriar-se delas e acreditar que se pode fazê-las. A resistência muito grande parte das concepções dos educadores de que sua missão é ensinar”. (Por Caio Barretto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause).

“Sem-terrinha em ação, para fazer a revolução”

Esse é um coro entoado por crianças de ensino fundamental nas escolas comandadas pelo MST. Detalhe espantoso: as escolas, fincadas em assentamentos, são estaduais. Também é o dinheiro público que patrocina as aulas que se passam nos acampamentos do movimento. Essas, particularmente, estão na mira do Ministério Público do Rio Grande do Sul, onde o MST é mais esparramado. Recentemente, o governo de lá decidiu fechar tais escolas, a pedido do procurador Gilberto Thums, que orientou o estado a fazê-lo por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta. Mas – depois que, com a medida, 140 crianças acabaram fora da sala de aula – o procurador, muito pressionado, admitiu a possibilidade de voltar atrás. Daí a medida ter sido submetida a uma comissão de promotores da área da infância, que, nesse momento, faz nova avaliação. Ninguém diz publicamente, ao menos ainda, mas sabe-se que há certa unanimidade em relação às escolas do MST (que, é bom que se lembre, são do estado). Elas não deviam existir.

Por uma razão simples. Essas escolas estão longe de cumprir com sua função básica, de preparar os jovens para viverem numa sociedade moderna. Ensinam o preconceito, fomentam o ódio, passam às crianças velhos estereótipos que só levam ao obscuratismo intelectual – e de nada servem. Nada mesmo. Fala-se, enfim, de algo muitíssimo atrasado e pouquíssimo democrático. Péssimo para as crianças, que precisam de muito mais do que é oferecido ali, e para o país, cujo dinheiro público escoa pelo ralo. Claro que essas crianças devem estar numa sala de aula, direito que é garantido a todas por lei. Mas numa escola que ensine química, física, matemática, português, geografia. E que esteja voltada para as questões da atualidade – e não para um ideário inútil e cheirando a mofo. Isso é o mínimo.

Os saberes, as bibliotecas universitárias e a edição no ciberespaço

Filed under: Bibliotecas,Educação,Leitura,Livros — jspimenta @ 15:15

(inédito)

Por ROBERT DARNTON *

O apagamento das Luzes no início do século XIX coincide com a irrupção do profissionalismo. Pode examinar-se este processo comparando a obra L’Encyclopédie (A Enciclopédia) de Denis Diderot, que encarava o saber como um todo orgânico guiado pela razão, com uma outra, L’Encyclopédie méthodique (Enciclopédia Metódica) de Charles-Joseph Panckoucke, que dividia o saber em campos autónomos e bem delimitados, semelhantes aos que hoje conhecemos: química, física, história, matemáticas, etc.

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No século XIX, estes campos tornam-se profissões, certificadas por diplomas e enquadradas por academias. Durante o século XX, a reorganização do saber materializa-se através da divisão das universidades em departamentos: a química aqui, a física ali, a história um pouco mais longe e, no meio deste território fragmentado, uma biblioteca, geralmente com o aspecto imponente apropriado a um templo do saber.

A subdivisão de cada domínio em especialidades e subespecialidades, cada vez mais exíguas, gera uma multiplicação das revistas profissionais, produzidas pelos universitários e compradas pelas bibliotecas. Este sistema funciona muito bem durante cerca de um século, até ao dia em que os grandes editores se apercebem de que poderem ganhar muito dinheiro vendendo as assinaturas destas publicações confidenciais. As bibliotecas universitárias voltaram uma vez mais a proporcionar uma clientela de qualidade. Por cada assinatura, professores e estudantes passam a receber um fluxo incessante de exemplares.

Pelo caminho, os editores podem aumentar os preços à vontade, pois quem paga é a administração e não os leitores. Além disso, os colaboradores destas revistas, na maioria professores, trabalham gratuitamente ou quase. Escrevem artigos, recenseiam obras dos colegas e participam na comissão editorial. Por vezes, fazem-no para difundir o seu saber, à semelhança das Luzes; mais frequentemente, fazem-no para assegurar a sua própria carreira.

Qual é o resultado? O orçamento atribuído em cada biblioteca universitária à aquisição destas revistas atinge níveis estrondosos. A assinatura anual do Journal of Comparative Neurology custa agora 25 910 dólares. Para receber a revista Tetrahedron, especializada em química bioorgânica, paga-se 17 969 dólares (ou 39 739 dólares na versão completa, que inclui os números especiais). O preço médio de uma assinatura anual de uma revista de química ascende a 3490 dólares. Estes preços astronómicos têm um efeito desastroso na vida intelectual.

As bibliotecas, que reservavam metade do seu orçamento de compras para as monografias (livros especializados não periódicos), passam, devido ao aumento exponencial dos preços das assinaturas, a destinar apenas 25 por cento do mesmo a essas aquisições. As edições universitárias, cujas vendas dependem quase exclusivamente das bibliotecas, deixam de poder amortizar o custo das suas monografias, razão pela qual as publicam cada vez menos. Os jovens investigadores são os primeiros prejudicados com isso.

Felizmente, este quadro está já a esbater-se. Biólogos, químicos ou físicos, mas também historiadores, antropólogos ou especialistas em literatura, já não vivem em mundos separados. Em muitos locais, os fios da interdisciplinaridade estão a estreitar-se e a formar uma estrutura sólida. A biblioteca continua a estar no centro das coisas, mas agora vai buscar os seus elementos nutritivos fora da universidade, muitas vezes nos confins do ciberespaço, através das redes electrónicas.

* Historiador, professor na Universidade Carl H. Pforzheimer e director da Biblioteca de Harvard.

Disponível em: http://pt.mondediplo.com/spip.php?article481

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